Durante
a minha infância costumava ser convidado para as festas de aniversário e minha
mãe nos alimentava em casa e nos proibia comer muito ou falar quando estávamos
com fome para não envergonhar a família. Muitas vezes fui para escola com fome
e tendo passado mal me vinha a mente a advertência de meus pais se eu falar a
verdade tomaria uma surra. Estou hoje com 45 anos de idade e já tendo
trabalhado em vários colégios em Valença, Ituberá, Taperoá, Cajaiba, Morro de
São Paulo nunca me calei diante de injustiças e da falta de competência. Nunca
usei meu cargo para silenciar um aluno ou nunca neguei ao educando o seu
direito de exigir de mim o que meus anos de estudos e profissão me deram.
Atualmente, estou na cidade de Jaguaripe trabalhando na região do Palma como
professor do ensino básico e sendo reconhecido como um dos melhores professores
na área de língua portuguesa. Assumi a Vice Coordenação da APLB e junto aos
professores e profissionais da educação tenho lutado pela educação deste
cidade, Jaguaripe, para que sejam respeitados e valorizados. Não me canso nas
reuniões citar professores que recebem salários defasados, cortes em seus
rendimentos sem uma compensação, falta de transporte digno, uma hospedagem que
não seja o próprio professor que precise pagar e leio as histórias de
professores que choram e sentem vergonha de mostrar seus contracheques. Grito
sem medo: a Educação em Jaguaripe pede socorro!!! Os educadores precisam ter
dignidade. Depois de ter prestado durante anos de serviço com 40h e ser
considerado e reconhecido bom professor, no dia 07 de outubro, depois de
finalizada a aula o diretor do estabelecimento o Sr. Jose Augusto diretor do
Colégio Manoel Francisco Lobo me chama e me diz que a Secretaria de Educação, a
Sra. Célia Amorim Cavalcante, falou que eu não poderia mais dar aula no Palma
nas séries do ensino médio pela manhã e nem no 3º ano. Retirando de mim sem
motivo minhas 20h suplementares. Motivo???? O professor Jota cumpre com seu
dever de cidadão, o professor Jota incomoda buscando o que é melhor para a
educação e por fim julguem se cabe a secretaria de educação decidir pela
comunidade do Palma na retirada do professor sem comunicar aos alunos, uma
falta de respeito aos eleitores. Portanto, cabe a comunidade decidir a quem
interessa a saída do professor, a quem interessa prejudicar os educandos com a
falta de um professor querido e competente? Não vou abrir mão da minha sala de
aula e nem do meu dever de educar com qualidade e ajudar na conscientização e
reflexão crítica dos meus educandos. Se for pra sair amarrado da sala ou ter
como forma de retaliação meu salário cortado, pouco me importa... não nasci
para ser calado, sou negro, sou brasileiro e não desisto da luta. Não sei se o
povo de Jaguaripe sabe mais isso de retirar da sala no final do ano letivo um
professor sem uma justificativa se configura perseguição, abuso de poder e não
vou me calar pois não voltei a Ditadura. Abaixo a Ditadura! Abaixo o medo!!!!
Exigo uma justificativa e explicações a comunidade e aos educandos para a minha
saída e se estas não forem coerentes e racionais peço ajuda do Ministério
Público em minha defesa, em defesa do meu direito de liberdade de expressão, de
sindicalista e de cidadão!!!